Clubes-empresas: você sabe o que é uma Sociedade Anônima do Futebol?

  • 05 de agosto de 2022
  • Por Bruno Sousa

O futebol é uma das bases do Brasil, sendo responsável por movimentar as finanças dos clubes, dos patrocinadores e até das pessoas que indiretamente se beneficiam de tal movimento. É o caso daquele “tio” da Uruguaiana ou da 25 de Março, que vende a camisa que o torcedor tanto deseja, mas cuja versão original é cara demais. No entanto, como em muitos outros setores da sociedade brasileira, o futebol sofre com finanças descontroladas e corrupção.

 

Os clubes de futebol do Brasil sempre foram associações sem fins lucrativos, mas em agosto de 2021, foi sancionada no Brasil a “Lei do Clube-Empresa” (Lei nº 14.193/202), que permitiu aos clubes brasileiros a conversão em Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Esse novo enquadramento possibilita a abertura do capital dos clubes para que investidores possam assumir um percentual das ações ou adquirir integralmente o clube-empresa. 

 

Tal modelo é benéfico principalmente para dois tipos de clubes: os que sofrem com dívidas gigantescas e os que enfrentam dificuldades para crescer, seja por estarem fora dos grandes centros urbanos e comerciais ou por não terem tradição. 

 

Por aqui, três clubes considerados “grandes” e “tradicionais” adotaram o modelo de SAF por conta das dívidas adquiridas ao longo de suas histórias, normalmente atreladas a péssimas gestões. São eles: o Cruzeiro, adquirido pelo ex-jogador Ronaldo Nazário, o “Fenômeno”; o Vasco da Gama, adquirido recentemente pelo fundo de investimentos 777 Patterns e o Botafogo, adquirido pelo empresário bilionário John Textor, que também é dono de outros times ao redor do mundo, como o Crystal Palace, da Inglaterra, o Molenbeek, da Bélgica e o Lyon, da França.

 

Em entrevista ao Portal Contábeis, o jornalista Irlan Simões, autor do livro “Clube Empresa: abordagens críticas globais às sociedades anônimas no futebol”, explicou que a legislação brasileira das SAFs nasceu a partir de regulamentações semelhantes em Portugal e na Espanha.

 

“Ela foi muito inspirada na lei das Sociedades Anônimas Desportivas (SADs), na Espanha e em Portugal. É uma ideia de criar um tipo específico jurídico de sociedades anônimas voltadas para o futebol”, diz Simões. “Uma vez que o futebol é um negócio de características muito específicas, os clubes devem ser sociedades anônimas reguladas de acordo com essas características e com uma tributação também muito específica”.

 

O atual modelo deve ser adotado nos próximos anos por diversos clubes brasileiros, mas para que esse movimento aconteça, o investimento precisa ser interessante para quem irá aportar o dinheiro, já que estamos falando de um negócio em que, definitivamente, ninguém joga para perder.

 

Outro clube que adotou o modelo de SAF pensando em seu crescimento foi o Bragantino, que após a fusão com a empresa Red Bull, realizada em 2019, viu os resultados dentro de campo aparecerem de forma imediata. A empresa austríaca tem vários clubes, ao redor do mundo, com o seu nome e logo estampados e, diferente de muitos clubes-empresas, ela visa ao lucro principalmente por meio da compra de jogadores jovens por baixo valor e revenda para clubes do exterior. Nesse modelo, também é comum que a empresa faça seus jogadores rodarem por times dentro de seu “guarda-chuva”, como forma de valorizar os atletas em baixa e fazer com que se tornem ativos rentáveis novamente.

 

Como se trata de um movimento crescente e agora autorizado por lei, é bem provável que vejamos, nos próximos anos, diversos clubes no país adotando o novo modelo de gestão, seja visando ao crescimento ou para simplesmente continuarem funcionando. Quem ganha com isso são os atletas, que terão seus pagamentos em dia, e a torcida, que poderá ver novamente seu clube em momentos de glória ou almejando lugares aonde nunca chegaram.

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