Quando você pensa em uma pessoa investidora, que imagem vem à sua mente?
Se pensou em um homem branco, não te culpo, afinal, de acordo com um mapeamento divulgado pela organização Anjos do Brasil, entre as 8 mil pessoas físicas que aplicam o próprio capital para impulsionar o crescimento de startups com alto potencial de retorno – os chamados investidores anjos – apenas 16% são mulheres e 3% se autodeclaram como pessoas negras ou indígenas. Fazendo um recorte de gênero e raça, acredita-se que as mulheres negras representam menos que 1 % do total de investidores anjos no país.
Apesar de mulheres negras ainda serem pouco representadas entre os grupos formais de investidores, há uma raiz feminina afrocentrada na história dos investimentos e do empreendedorismo brasileiro, que nasce do senso de comunidade e sororidade.
Para mulheres negras, lidar com o dinheiro sempre foi, e continua sendo, uma questão de sobrevivência. Exemplo disso, em 1820, foi o movimento Irmandade da Boa Morte, associação de negras alforriadas de Cachoeira (BA) que se uniram para levantar capital com a venda de quitutes, doações e até mesmo utilizando suas próprias economias para realizar empréstimos para que mulheres escravizadas pudessem comprar a própria alforria e serem livres.
A Irmandade, conhecida como uma das primeiras representantes do feminismo negro no Brasil, é um símbolo de resistência e exemplo de estratégia de ascensão econômica. Entretanto, elas são apenas um dos grupos de mulheres que nos mostram, historicamente, que os nossos passos rumo à liberdade financeira vêm de longe. Apesar disso, os dados evidenciam que a caminhada ainda é longa para as mulheres negras.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres negras são a maioria da população brasileira, somando mais de 60 milhões de pessoas. De acordo com o Instituto Locomotiva, elas movimentam anualmente cerca de 704 bilhões de reais.
Porém, de acordo com dados do Instituto Ethos, quando olhamos para os principais cargos de poder e decisão, mulheres negras são apenas 0,4% das executivas nas 500 maiores empresas do país e recebem menos da metade dos salários dos homens brancos (IPEA, 2019).
Todos esses números mostram que ao se relacionarem as questões de gênero com o recorte racial, as mulheres negras estão na base da pirâmide econômica do Brasil. Por isso, antes mesmo de falarmos sobre investimentos, é necessário pensar em formas de driblar as dificuldades que a mulher negra enfrenta para conseguir chegar a esses lugares de poder e decisão.
A união de mulheres negras continua sendo uma das formas de hackear o sistema que estimula as desigualdades. E hoje, guiadas pela sabedoria da Irmandade da Boa Morte, o poder econômico de uma parte da população negra também pode ser usado como ferramenta de propulsão para o restante da população.
Com esse movimento é impossível não se lembrar da reflexão de Angela Davis: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”. Afinal, o capital nas mãos de mulheres negras as coloca como protagonistas das decisões que nos levarão a um futuro com um ecossistema de empreendimentos diversos e inclusivos.
4 mulheres negras que impulsionam o ecossistema de investimentos diversos no Brasil
Apesar de ainda não terem uma posição de protagonismo no universo dos investimentos anjos, muitas mulheres negras estão comprometidas em investir e contribuir com a inclusão e diversidade. Destaco aqui, a trajetória de Amanda Graciano, Jessica Rios, Lívia Felix e Luana Ozemela, que estão abrindo caminhos para que outras mulheres negras também possam evoluir e conquistar seus espaços no mercado financeiro.
Economista, especialista em Inovação, Gestão e Liderança, Amanda é membro do Comitê de Gestão do Lide Futuro e do Conselho Consultivo da Wishe Women Capital e do Aladas. Também é professora na Fundação Dom Cabral e na Conquer. Imersa nas empresas que lideram um novo modo de pensar e trabalhar, já acompanhou e acelerou mais de 1.000 startups de norte a sul do país e atualmente lidera as operações de Corporate Venture Builder da Fisher Venture Builder, auxiliando grandes e médias empresas na disrupção e evolução dos seus mercados.
Ex-sócia da Vox Capital e atual consultora no programa Black Founders Fund do Google, Jessica é cofundadora da BlackWin, primeira plataforma de investimento anjo liderada por mulheres negras. A empresária atua com alocação de investimento para empresas que estão desenvolvendo soluções escaláveis para problemas que acometem a população em situação de vulnerabilidade social e econômica, buscando impacto social e retorno financeiro. Além disso, contribui diretamente com empreendedores e organizações de fomento, como a Artemisia, no melhor entendimento e na gestão das questões que envolvem a mensuração de impacto social.
Executiva com mais de 12 anos de experiência no desenvolvimento estratégico de negócios nacionais e internacionais, Lívia participa ativamente de iniciativas para Inclusão e Diversidade. Através de espírito empreendedor, visão global e liderança colaborativa, vem continuamente ajudando organizações de diferentes setores a debaterem, pensarem, executarem e se posicionarem no desenvolvimento de soluções. Além disso, a executiva faz parte dos 23,5% de mulheres investidoras pessoa física na B3.
Cofundadora da BlackWin e CEO da Development Impact Managers and Advisors (DIMA), uma consultoria em desenvolvimento econômico e social estabelecida no Catar e no Brasil, Luana tem a missão de aumentar o volume e a eficácia dos investimentos destinados à população negra e tornar o mercado financeiro mais inclusivo. Atualmente, faz parte do conselho de diversas instituições, incluindo o Laboratório de Inovação Financeira da CVM e o Sistema B Internacional.
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